O Estado conversou com o especialista em economia da educação Marcelo Côrtes Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio (FGV-RJ) sobre as possíveis razões para o Ideb do ensino médio não avançar no mesmo ritmo que os anos iniciais e finais do ensino fundamental.
Por que o ensino médio não atrai os alunos?
O principal problema é a falta de interesse. Seja para justificar os índices de evasão ou os motivos que os estudantes usam para explicar suas faltas.
Mas por que isso ocorre?
É uma questão, como sempre, de políticas públicas. Costuma-se pensar que boa educação é ter a melhor escola possível, com o melhor prédio, a melhor infraestrutura e os melhores professores e funcionários trabalhando. Mas não é só isso. Temos de pensar também no problema da oferta de vagas. E, isso resolvido, temos de criar demanda para essa oferta.
Como assim?
Para um estudante de 15 anos realmente querer estar dentro de uma escola, ela tem de parecer boa aos olhos dele e aos olhos de quem lá estuda. A falta de interesse não está ligada somente à questão financeira, de falta de investimento ou do estudante mais pobre não ter dinheiro para ir e vir da escola todos os dias. É um problema intrínseco ao ensino médio brasileiro. Já está enraizado.
Mas como podemos motivar essa demanda a se interessar pela escola?
Existe um paradoxo econômico dentro de tudo isso. Pesquisas comprovam que quem conclui o ensino fundamental tem 68% de chance de ser empregado com uma média de salário de R$ 700. Para quem finaliza o ensino médio, essa empregabilidade pula para 78%, com renda de R$1,6 mil. No entanto, o jovem parece não enxergar isso. Ele não vê essa ligação com o mercado de trabalho, não vê isso como motivação. Isso se deve, em grande parte, ao caráter generalista do ensino médio, que tenta fazer e ensinar muita coisa, mas não consegue.
Por quê?
Porque o estudante não vê a coerência que estudar física e química pode ter em sua vida. Ele não compreende o que esse conteúdo pode trazer em termos práticos. Além disso, o tempo de permanência na escola é muito curto. Uma jornada diária de quatro horas é pouco. Ele aprende pouco e não tem o interesse pelo conhecimento motivado.
Qual solução você enxerga para esse quadro?
O ensino profissionalizante é um bom caminho. Mas também não serve para todos. Uma mudança do conteúdo que é dado no ensino médio também seria bom. No caso da educação profissional, o primeiro passo é mudar a visão que as pessoas têm dela, de que é uma educação de segunda classe. Estadão
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