O fim do segredo
O melhor jeito de multiplicar o conhecimento é dividi-lo.
Aprendi a dizer não, ver a morte sem chorar,
e a morte, o destino, tudo, a morte, o destino,
tudo estava fora de lugar. Eu vivo pra consertar.
(Geraldo Vandré, Disparada)
Há um segredo para administrar o conhecimento, essa nova riqueza do mundo dos negócios. É um segredo muito bem guardado, mas consiste, basicamente, de apenas quatro palavrinhas: não há mais segredo. (Se você acha que isso é um paradoxo, então veja este: as próximas 5 994 palavras são para explicar essas 4.)
No mundo de negócios tradicional, conhecimento é poder. Só a Coca-Cola detém a fórmula da coca-cola. O protótipo de um carro novo é mantido em sigilo até a data do lançamento. O método de produção é defendido como segredo de Estado por se tratar de um diferencial competitivo.
Guardar o conhecimento para si faz sentido quando ele é a matriz de um produto ou serviço que, este sim, se quer difundir. (E o preço do produto será tanto maior quanto menos gente souber como fazê-lo.) Há outro caso em que se justifica a economia do segredo: o reforço da hierarquia. O diretor financeiro escolhe quem pode e quem não pode saber qual é o lucro da empresa. Só o chefe sabe quais os critérios para contratar, promover ou demitir alguém.
Esse tipo de gestão do conhecimento não está condenado à morte. Ele vai continuar a existir, vai se desenvolver e vai trazer seus benefícios e prejuízos usuais. Mas há hoje uma nova prática no mundo dos negócios. Segundo ela, o poder não está em deter conhecimento, mas em disseminá-lo. Quanto mais informação você divide com os outros, maior o seu retorno. É assim que novas tecnologias podem se tornar padrão mundial, é assim que uma empresa pode arregimentar uma rede de fornecedores, é assim que você pode atrair clientes que ajudem a planejar o produto que eles querem.
Dentro dessa nova prática, gestão do conhecimento não é mais o incentivo a um departamento de gênios e a proteção dos direitos intelectuais. Gestão do conhecimento é orientar a empresa inteira para produzir este que é o bem mais valioso da nova economia, descobrir formas de aproveitá-lo, difundi-lo, combiná-lo. E de lucrar com ele. Em cada caso particular, as empresas vão ter de escolher qual o tipo de gestão do conhecimento que usarão: o segredo ou a cooperação, a evolução ditada pelas leis de mercado ou pela revisão dos pares. Na maioria das vezes, será necessário um misto dessas duas formas de gestão.
Fonte: A empresa do novo milênio - REVISTA EXAME